quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Defesa de um jardim público







Algo do jardim edénico vive nos logradouros deste quarteirão.
Talvez a própria árvore da sabedoria habite entre essa esquecida vegetação.

Manuel José Fernandes (engenheiro florestal e investigador), sobre o interior do quarteirão Camões-Caldeirôa


As assembleias populares da Caldeirôa decorrem sempre que alguém ou um grupo de pessoas acha que é necessário tomar alguma decisão que envolve um grande contexto. Neste caso, a grande preocupação é o destino do interior do quarteirão delimitado pelas ruas de Camões, Liberdade e Caldeirôa, em Guimarães.

Estas assembleias, sem filiação partidária, têm um funcionamento democrático diferente, por exemplo, do das assembleias municipais onde os grandes partidos políticos têm mais tempo de retórica do que os mais pequenos ou então pela eleição de um determinado deputado, esse será sempre o "escolhido" para falar, mesmo que se torne incompetente para o cargo. Nas assembleias populares, qualquer pessoa pode ser escolhida para determinada tarefa ou para representar o grupo. Por isso, o funcionamento das assembleias populares é sempre de respeito mútuo e de abdicação do poder sobre o outro. Também convém informar de que a participação nas assembleias é voluntária. Mesmo quem nunca participou nas assembleias anteriores pode comparecer e participar na próxima.

A Assembleia Popular da Caldeirôa foi constituída, em Julho de 2016, por um conjunto de pessoas preocupado com o resultado nefasto para o bem-estar comum se a construção do parque de estacionamento de Camões no interior do quarteirão delimitado pelas ruas de Camões, Liberdade e Caldeirôa for executada.

Nesta 8ª Assembleia Popular da Caldeirôa que decorrerá no próximo Sábado, às 16:00, na Travessa da Caldeirôa, vamos discutir vários pontos como defender a criação de um jardim público em vez da ideia do parque de estacionamento e proteger os morcegos e a biodiversidade, acrescentando a esta ordem de trabalhos outros assuntos, que é um espaço aberto à introdução de outro ou outros temas à discussão.

O primeiro tema da discussão é muito urgente. À medida que o tempo avança torna-se mais difícil defender um espaço que pertence a todos nós. Dentro do interior do quarteirão existe uma área muito grande sem qualquer construção arquitectónica composta por imensas árvores e solo permeável que possibilita grandes espaços verdes.

Durante muito tempo os promotores do projecto do parque de estacionamento diziam que dentro do quarteirão não havia nada de valor e que por isso um parque de estacionamento com 440 lugares seria a solução. Enquanto não se soube o que realmente existia dentro do quarteirão, as pessoas deixaram-se ficar pela dúvida. No entanto, têm surgido muitas imagens e vídeos do interior do quarteirão que provam que o seu interior é muito rico, não só pelas árvores e biodiversidade, como pelo património arqueológico industrial existente, pela actividade cultural que funciona numa das fábricas a ser demolida e por ser uma área nobre da cidade a escassos metros do Largo do Toural que deixou de ser um jardim desde a sua última remodelação.

Se o interior do quarteirão fosse a única alternativa para tal emprendimento ninguém se insurgia contra tal projecto. O problema está em que nunca foram apresentados estudos de alternativas, assim como nunca foram apresentados os pareceres técnicos de arquitectos e outros especialistas sobre a viabilidade do local escolhido e do tamanho do parque de estacionamento. Assim como não são tornados públicos pareceres de organizações de protecção do património, como por exemplo o parecer encomendado pela CMG à ICOMOS (Comissão Nacional Portuguesa do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios). A preocupação patrimonial não tem que ver apenas com o interior do quarteirão isolado, mas com a área de protecção à zona classificada de Património Cultural da Humanidade. A construção deste parque de estacionamento também viola a área que deverá integrar a proposta de inscrição da zona de Couros à classificação de Património Cultural da Humanidade (neste link podem ler uma publicação anterior com mais informação sobre o assunto).

A defesa de um jardim público cheio de árvores e espaços verdes para o interior do quarteirão é o mais lógico na actualidade da cidade de Guimarães. Este quarteirão fica a escassos metros do Largo do Toural e é constituído, essencialmento, por casas de habitação. O centro da cidade tem perdido espaços ajardinados, como aconteceu com o próprio Largo do Toural ou a Alameda S. Dâmaso. O interior do quarteirão delimitado pelas ruas de Camões, Liberdade e Caldeirôa não se pode transformar num espaço cimentado, sem espaços verde com grandes árvores e jardins coloridos. Um parque de estacionamento numa cidade pode ser comparado com uma arrecadação numa habitação que nunca fica na zona nobre da casa. O interior do quarteirão é uma zona nobre que a cidade ainda não descobriu. É nobre pela localização e pelo seu potencial em criar uma qualidade de vida melhor, principalmente ambiental, no centro da cidade.

Há mais informações a revelar sobre todo este processo e na próxima Assembleia Popular da Caldeirôa falaremos delas a quem não o tem acompanhado, assim como definiremos as próximas acções para a defesa do património que nos diz respeito a todos.



A 8ª Assembleia Popular da Caldeirôa vai decorrer no próximo Sábado, dia 14 de Outubro, às 16:00, na Travessa da Caldeirôa (ligação Rua da Caldeirôa à rua da Liberdade).











Nota 1: A fotografia do cabeçalho é do interior do quarteirão Caldeirôa, Liberdade, Camões e foi tirada na primeira semana de Outubro deste ano.

Nota 2: O desenho pretende ser um símbolo da protecção do interior do quarteirão e da sua biodiversidade, nomeadamente os morcegos que são uma espécie protegida por lei.

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