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segunda-feira, 5 de março de 2018

"Não ter carro", de Vítor Belanciano

Crónica de Vítor Belanciano sobre "O carro ocupa um campo desmesurado, tanto em termos reais como simbólicos". Partilhamos este texto porque se adapta à triste história da destruição da Caldeirôa.

Domingo, 25 de Fevereiro de 2018, às 16:03

O artigo na Íntegra:

"No meu tempo de vida já assisti a algumas importantes mudanças comportamentais com cigarros, touradas, caçadas, meio ambiente, orientação sexual ou descriminação racial. Ou seja, com avanços e recuos, pude constatar que a pressão social sobre algumas condutas tem efeitos.

Do que eu não tenho esperanças de grandes mudanças, pelo menos no meu tempo de vida e no caso específico de Portugal, é sobre a relação que estabelecemos com o carro, o automóvel, o popó. É verdade que sou um caso peculiar. A minha relação com carros não é tão radical como a do dramaturgo italiano Luigi Pirandello que dizia, na década de 1930, que o “carro é uma criação do diabo”, mas diria que para mim um automóvel está ao nível de um aspirador, sem qualquer menosprezo para estes.

Custa-me compreender as horas gastas, aos domingos de manhã, a arejar e a limpar o popó, com o mesmo cuidado do dar banho a um bebé. Não percebo como é que o museu mais visitado em Portugal é o dos coches. Não apreendo a relação identitária, por vezes mesmo fetichista, que a maioria tem sobre um objecto estético que é, na sua esmagadora maioria, acinzentado e de formas padronizadas, parecendo quase todos idênticos.

E por isso, sim, custa-me ainda mais entender os impulsos primitivos ao volante, como se o habitante do receptáculo estivesse a defender a sua individualidade, o seu território, a sua fortaleza de lata. Ou por outra, entendo, porque o carro foi sendo transformado num objecto de desejo.

E isso tem sido muito bem explorado para simbolizar ideias de liberdade, de independência, de conquista e de objectivo da vida. Ser dono de um automóvel não é apenas um bem que pode ser indispensável ao desempenho de uma actividade, confere também estatuto social. Quanto mais sofisticado o veículo melhor para o seu, certamente, ambicioso, irresistível, amigo do próximo, arguto e mui sensual, proprietário.

O carro exerce fascínio. Ocupa um espaço no imaginário que vai ser difícil de inverter, pelo menos em Portugal, porque noutros contextos europeus isso já acontece, principalmente entre as novas gerações. Para esses o carro individual tem vindo a perder encanto, por causa da sustentabilidade ambiental, por ser agente poluidor e ocupar imenso espaço, sendo indissociável dos debates sobre os modelos de desenvolvimento. Nesses contextos os transportes públicos, os serviços de partilha, a valorização do andar a pé ou de bicicleta, ganham terreno.

Estamos numa fase em que ainda vinga a ideia de que será possível a transição suave dos combusteis fosseis – do qual o nosso estilo de vida depende – para os seus substitutos ou que através da tecnologia será possível encontrar uma solução para os problemas energéticos ou para os congestionamentos das urbes. Mas hoje, depois de muitas experiências sempre insuficientes, como os carros a electricidade, a única coisa que parece certa é que vale a pena investir em bairros de proximidade e em novos modelos urbanos, com cidades menores, densas e compactas.

Ou seja, lugares menos dependentes do carro. Não sou sonhador. Não se trata de substituir os carros nos centros das cidades, e muito menos nas periferias, mas de encontrar arquétipos de desenvolvimento onde possam coabitar diversas condutas e criar meios complementares ao nível dos transportes. Decidir se queremos uma cidade para as pessoas ou para os carros, porque é penalizador habitar numa metrópole de itinerários e de vias imaginadas apenas para eles – e as ciclovias em vez de retirarem espaço aos carros acabam por tirar ao elo mais fraco da mobilidade, aos peões, sendo mais pensadas para lazer do que para uso quotidiano.

O processo de mudança de mentalidades é possível. Mas aqui parece difícil. O carro ocupa um campo desmesurado, tanto em termos reais como simbólicos. Na redefinição do espaço urbano, na ocupação da rua, no fim do reinado absolutista do automóvel ainda estamos nas trevas. Em vez de existir pressão social no sentido da sua menor utilização, ainda prevalece a coacção no sentido inverso. Quem não tem um é como se fosse disfuncional. Sempre que digo isto à minha volta apanho com as justificações do costume: o sistema de transportes é deficiente e ineficaz.

Talvez. Mas continuo na minha. Não conheço outro contexto, como o português, onde o carro seja tão venerado. Eu que não tenho carro estou sempre a ouvir como é que consigo viver assim, de tal forma esse pensamento está incrustado nas sociabilidades mais fugazes. Por vezes ser-me-ia útil? Claramente. Mas, feito o balanço, estou bem assim.

E tudo o que conto atrás foi intensificado quando fui pai. A primeira coisa que me diziam, meio-a-brincar-meio-a-sério, que é quase sempre a forma como estas coisas são nomeadas, é que, nem pensar, não me iria safar. É verdade, não tenho carro, mas ainda penso pela minha cabeça e tenho muito afecto para dar e isso parece-me bem mais determinante.

16 de Janeiro de 2018 - imagem do esgoto que surgiu.
Foto tirada a partir da travessa da Caldeirôa.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Acesso a documentos administrativos

No dia 19 de Setembro de 2017 foi publicado um vídeo promocional do parque de estacionamento de Camões. Toda a gente sabe que na campanha eleitoral cometem-se irregularidades apenas com o objectivo de captar mais votos - momento predatório da democracia. No entanto, esta publicação serve para falar dos documentos relativos a todo o processo do parque de estacionamento de Camões e para apresentar a exigência de que estes sejam publicados no sítio da Internet com acesso público.

A imagem apresentada no início desta publicação foi captada hoje através de um print screen (ferramenta que permite copiar imagens dos nossos ecrãs de computador) da página facebook de um partido político de Guimarães. Quanto ao vídeo, já fizemos uma análise à tentativa de manipulação do público e à desconsideração pelos vimaranenses. No entanto, o número de visualizações, o número de gostos e de partilhas do vídeo promocional é considerável e por isso merece ser comentado neste blogue. 

Como todos sabemos este projecto não beneficiou de uma discussão pública específica sobre o parque de estacionamento tendo em consideração os munícipes e sobretudo os moradores da zona. Houve apenas uma sessão de esclarecimento na Sociedade Martins Sarmento, a 22 de Maio deste ano, que em termos pragmáticos não serviu para alterar as decisões já tomadas pelo então executivo camarário. Esta sessão apenas serviu para confirmar que as dúvidas e as questões levantadas pelos presentes e não esclarecidas, quer tenham sido técnicas ou de carácter geral, demonstra uma grave inexistência de estudos que suportem, entre outras questões, a de aferir, de facto, se haverá necessidade de mais parques de estacionamento para automóveis em Guimarães, onde se devem localizar e de que tipo devem ser.

Um discurso criado no processo deste projecto tem que ver com a afirmação de que o parque de estacionamento de Camões foi sufragado nas últimas e nas penúltimas eleições autárquicas. No nosso entender, a afirmação é falaciosa pela simples razão de que ninguém conhece verdadeiramente o projecto porque os documentos do processo não estão disponíveis ao público. Não é através de um vídeo que se conhecem as implicações de um projecto, especialmente com este nível de complexidade, dimensão e localização. Como nota, relembramos que o projecto apresentado no vídeo não corresponde ao mesmo projecto que foi apresentado na sessão da S.M.S.

Os vídeos deste género utilizam por base vários programas de computador, sendo um deles o AutoCAD, que é usado essencialmente por arquitectos e engenheiros para a projecção, cálculos de áreas de implantação de edifícios, etc. A partir deste programa são impressos desenhos com as plantas e com os cortes que ajudam a comunicar, ainda que de forma irreal, como será o edifício. E foi a partir desse programa e desses ficheiros que as animações virtuais do vídeo foram produzidas. Os ficheiros deste programa, assim como, todos os outros documentos relativos ao processo do parque de estacionamento de Camões estão na posse da CMG, ela é a proprietária da obra e como já cedeu estes ficheiros a um partido político, achamos que é sua obrigação torná-los públicos.  

Aproveitamos este momento para um gesto de pedagogia democrática ao referir que o acesso a documentos administrativos e ambientais está regimentado pela Lei n.º 26/2016 que permite a qualquer munícipe ter o direito ao acesso a documentos administrativos, salvo excepções, e a CMG tem dez dias para responder, findo esse período, pode apresentar queixa à Comissão de Acesso a Documentos Administrativos - C.A.D.A. (http://www.cada.pt/). 


terça-feira, 31 de outubro de 2017

Vigília no Largo 25 de Abril

No dia 28 de Outubro, Sábado, a partir das 17:00, realizou-se a primeira vigília em favor da criação de um jardim público em vez da ideia de um parque de estacionamento no interior do quarteirão delimitado pelas ruas de Camões, Liberdade e Caldeirôa. A vigília decorreu no Largo 25 de Abril (junto à Caixa Geral de Depósitos) a partir das 17:00. Foi um encontro e uma experiência muito ricos. A dinâmica foi mais descontraída que nas Assembleias Populares. Estava um dia quente e de sol.As pessoas foram aparecendo e ficando, uns ficaram 15 minutos, outros 2 horas e outros vieram mais tarde porque decorreu no mesmo dia a mostra de documentário ambiental Ecorâmicas, com o tema Florestas.
A primeira alegria desta vigília foi a de estar em grupo no espaço público a defender o destino de outro espaço público muito próximo ao que nos encontrávamos. 
A segunda alegria foi estarmos juntos por uma vontade que diz respeito particularmente à cidade. Não é um ressonância de movimentos internacionais. Esta vigília aconteceu em defesa do melhor para a cidade do ponto de vista ambiental e patrimonial.
A terceira alegria foi reunir mais informação histórica e processual sobre o projecto e sobre o quarteirão.
Distribuímos alguns folhetos pelos interessados: 



No próximo Sábado, dia 4 de Novembro, vamos repetir o encontro-vigília mas com início às 16:00.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

7ª Assembleia Popular da Caldeirôa


A reabilitação do interior do quarteirão delimitado pelas ruas Camões, Caldeirôa e Liberdade ainda não está resolvida. O projecto do parque de estacionamento de 440 lugares, com o custo de € 8 Milhões de euros, não é a solução.

Na sessão de esclarecimento sobre o futuro parque de estacionamento, que decorreu no passado dia 22 de Maio, na Sociedade Martins Sarmento, percebeu-se que o projecto não é consensual. Não foram apresentados argumentos e/ou estudos concretos que ditem o parque de estacionamento como única possibilidade para o quarteirão. Não é um projecto consensual, nem ao nível técnico, visto que a partir das palavras de vários arquitectos, esta é apenas uma decisão política. E não é consensual porque os moradores, utilizadores, comerciantes e cidadãos não foram ouvidos nem considerados. É um projecto monstruoso e oneroso para uma cidade classificada como Património Cultural da Humanidade e que pretende ser Capital Verde Europeia. Além disso, destruirá solo permeável, património arqueológico industrial e provocará mais trânsito e poluição nas ruas de acesso ao parque (D. João I, Dr. Bento Cardoso, Camões, Liberdade e Caldeirôa) com consequente perda de qualidade de vida para todos e para todas.

Na 7ª Assembleia Popular da Caldeirôa vamos falar de alternativas para o interior do quarteirão; vamos falar da criação de uma associação e/ou comissão de moradores para salvaguardar o interesse comum, e assim, acautelar a qualidade de vida daqueles e daquelas que realmente se importam com as suas vidas no quarteirão e na cidade.


Hora e local:
15 de Julho de 2017 (sábado), às 16h00, na travessa da Caldeirôa, em Guimarães.