terça-feira, 21 de março de 2017

Metamorfose / Laurus nobilis (popularmente loureiro ou louro)

"Mal acabara a sua súplica, quando um pesado torpor invade os seus membros;
Uma delgada cortiça cinge o seu delicado peito;
Os cabelos crescem como folhas, os braços como ramos,
Os seus pés até há pouco tão velozes aderem por raízes preguiçosas;
Em lugar do rosto tem uma copa; apenas a beleza permanece nela."


Ovídio, Metamorfoses, vv. 548-552


Apolo e Dafne
Piero del Pollaiuolo
Óleo sobre madeira, c. 1470-80
The National Gallery

Lenda:
Apolo era o mais belo dos deuses do Olimpo, senhor da Arte, da Música e da Medicina. Ciente da própria beleza e confiante na sua destreza em manejar o arco de prata, matou a terrível serpente Píton, que da sua caverna no Monte Parnaso, assustava todos os habitantes daquela terra.
Conta Ovídio em “As Metamorfoses” que perante a arrogância de Apolo como vencedor de Píton, Cupido decidiu fazer-lhe uma partida. Para lhe mostrar a superioridade das suas flechas, mandou duas, uma de ouro, com o poder de atrair o amor, sobre Apolo, e uma outra de chumbo que afastava o amor sobre a bela ninfa Dafne, filha do rio-deus Peneu.
Ferido por Cupido, o deus foi tomado de amor pela ninfa, esta que sempre recusara os pretendestes, horrorizada tentou escapar-lhe, correndo como se asas tivesse nos delicados pés. Arrastado pela paixão, pela vontade de tocar o ser amado, de beijá-la e dizer-lhe o quanto a amava, Apolo corria como acossado pelas Fúrias.
Desesperada, constatando que o seu perseguidor estava cada vez mais próximo, que as forças começavam a fraquejar, Dafne ao ver o pai entre as árvores pediu-lhe que a salvasse mudando-lhe a forma do corpo para que o impetuoso deus a deixasse em paz. Peneu fez o que a filha pediu...E quando Apolo estava quase a tocar-lhe os cabelos, Dafne sentiu um torpor estranho apoderar-se dos seus membros: o seu corpo revestiu-se de casca, os seus cabelos transformaram-se em folhas, os seus braços mudaram-se em ramos e galhos, os pés cravaram-se na terra, como raízes. Impotente perante a metamorfose da sua amada em arbusto, o loureiro, Apolo abraçou-se aos ramos e beijou ardentemente a casca, declarando:
- Já que não podes ser minha esposa, serás a minha planta preferida e eternamente me acompanharás. Usarei as tuas folhas sempre verdes como coroa e participarás em todos os meus triumfos, consagrando com a tua verdura perfumada as frontes dos heróis.

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